Perspetivas Económicas da Alemanha: Desafios Políticos, Financeiros e Comerciais


Após meses de conflitos internos na coligação de três partidos entre o SPD de Olaf Scholz (centro-esquerda), os Verdes ambientalistas e os liberais do FDP, devido às dificuldades económicas do país e possíveis soluções, a coligação finalmente desmoronou na primeira semana de novembro. O colapso foi desencadeado quando Scholz demitiu o Ministro das Finanças Lindner, que também é líder do FDP. Enquanto Scholz queria aumentar os impostos, reforçar os gastos públicos e alterar o travão da dívida imposto pela constituição do país, Lindner pretendia, em vez disso, reduzir os gastos governamentais em programas de bem-estar social e outros itens.

Nas últimas semanas, tem-se falado muito sobre o travão da dívida da Alemanha e se faz sentido esse constrangimento num cenário em que a economia do país está a ter dificuldades consideráveis para se recuperar da crise inflacionária que atingiu a região após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Mas o que é exatamente o travão da dívida? Este requisito foi introduzido na Constituição alemã, em 2009, por Angela Merkel, na sequência da crise da dívida soberana, e exige legalmente que os estados e o governo federal limitem os empréstimos líquidos a um máximo de 0,35% do PIB. Desde a sua introdução, o parlamento alemão, ou Bundestag, votou três vezes para suspender o travão da dívida – em 2020, 2021 e 2022 – essencialmente durante a crise da Covid-19, seguida pela crise energética. A constituição permite que o travão da dívida seja suspenso em casos de “desastres naturais ou emergências invulgares fora do controlo do governo e substancialmente prejudiciais à capacidade financeira do estado”.

Pode-se argumentar que limitar de forma tão severa a capacidade do governo de contrair novas dívida pode prejudicar o crescimento económico do país nos próximos anos.

Os PMIs do setor da indústria alemã têm registado valores abaixo de 50 (o limiar entre contração e expansão) desde junho de 2022, indicando consistentemente um setor em enfraquecimento. Apesar de um setor de serviços relativamente mais forte (PMIs frequentemente acima de 50), os PMIs Compósito têm, na maioria das vezes, mostrado um setor empresarial em enfraquecimento, variando entre 44,6 e 54,2 entre junho de 2022 e outubro deste ano. O abrandamento económico retratado nos PMIs refletiu-se em crescimento económico fraco nos últimos dois anos, com a Alemanha a oscilar entre crescimento tímido e contração económica durante esse período.  

Apesar de ser a economia com crescimento mais lento entre as quatro maiores economias da Europa (Alemanha, França, Espanha e Itália), a Alemanha continua a ser a mais fiscalmente prudente com os menores défices fiscais dos quatro países. Mesmo em situações de crise, como em 2020, o défice da Alemanha foi de 4,4%, menos de metade do de França nesse ano. Isso traduz-se naturalmente numa situação em que a dívida pública em relação ao PIB da Alemanha também é a mais baixa dos quatro países, nunca acima de 70%, embora acima da regra fiscal da UE relativamente ao rácio de dívida nos últimos anos (exceto em 2023).

A Alemanha, outrora uma potência industrial, tem perdido vigor e a vantagem competitiva que tinha está a desvanecer-se face a economias de crescimento mais rápido e força de trabalho muito mais barata, como a China, e uma reforma séria nas finanças do país parece estar a tornar-se cada vez mais obrigatória do que opcional.

A queda política ocorreu um dia após Donald Trump vencer as eleições nos EUA. Trump tem, há vários meses, ameaçado impor tarifas de 10% sobre todas as importações. Os EUA são um dos parceiros comerciais mais importantes da Alemanha, representando cerca de 10% das exportações do país. O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, estimou que o potencial impacto das tarifas de Trump seria equivalente a 1% do PIB do país. Nagel acrescentou que a economia alemã não deverá crescer este ano e provavelmente crescerá menos de 1% no próximo ano- “Se as novas tarifas forem realmente impostas, podemos entrar em território negativo.”.

Os investidores parecem ter percebido as perspetivas de enfraquecimento para a maior economia da região e, após a queda política, os mercados mudaram a perceção de risco sobre o país. No entanto, os Bunds continuam a ser utilizadas como a taxa de referência risk-free para a região. Pela primeira vez desde que há registo, o diferencial EUR 10y Swap-Bund entrou em território negativo em 7 de novembro, refletindo a maior perceção de risco da Alemanha em relação à Zona Euro, e tem vindo a alargar desde então. Além disso, a curva dos Bunds tornou-se mais inclinada, refletindo também maior risco, bem como expectativas de cortes nas taxas pelo BCE.

Em suma, a economia alemã tem mostrado sinais de precisar de uma reinvenção; no entanto, a instabilidade política (o voto de confiança ao governo no Bundestag será realizado a 16 de dezembro e as eleições a 23 de fevereiro), as restrições orçamentais constitucionais e ameaças externas, como uma iminente guerra comercial, podem certamente prejudicar esse processo.

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